quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A incógnita da internet no jogo político-eleitoral


Há um consenso entre os que estudam a internet de que ela terá grande influência na definição dos novos centros de poder que surgem na sociedade contemporânea. Mas o que ninguém sabe é como esse processo se desenrolará, quando seus resultados aparecerão e de que forma.

Os processos eleitorais configuram momentos em que as pessoas tomam decisões que moldarão o cenário político e, por consequência, uma nova geografia do poder no país ou na região. Como a internet já faz parte do contexto social contemporâneo, começa a provocar reações desencontradas tanto entre os conservadores como entre os liberais.

As pessoas tomam decisões com base em mensagens captadas pelo sistema cognitivo individual que, por sua vez, está condicionado a contextos específicos, dando origem a percepções diferenciadas. As mensagens são transmitidas e recebidas dentro do processo da comunicação, transportadas pelos chamados meios de comunicação (jornal, rádio, TV, internet, cinema, livros, publicidade, propaganda etc.).

A internet é um meio de comunicação que opera no contexto de redes sociais formadas por usuários que interagem de forma horizontal e descentralizada. Essas características levaram o sociólogo espanhol Manuel Castells a afirmar que “em uma sociedade em rede, a política é essencialmente a política da mídia”, ou seja, ela é determinada pela política dos meios de comunicação.

É essa característica que está deixando os conservadores nervosos e beligerantes enquanto os liberais mostram-se perplexos e desorientados. A internet quebrou o controle quase absoluto que os conservadores tinham sobre os meios de comunicação, e isso os está assustando muito. A multiplicação vertiginosa dos weblogs, a disseminação viral dos twitters e o crescimento constante de redes como Facebook, os colocam diante de situações não previstas e incontroláveis.

O controle da comunicação sempre foi com a força militar o binômio responsável pela hegemonia de um segmento social cujo poder é financiado pela acumulação de riquezas. Como os conservadores estão perdendo o controle da comunicação, são obrigados a rever seu modelo de poder político. A recente crise no sistema financeiro mundial é um sintoma desse ajuste, que até agora ninguém sabe como terminará.

Por seu lado, os liberais, ainda não chegaram a um consenso sobre o modelo econômico que viabilizará os negócios digitais a longo prazo. A ausência desse modelo fragiliza seus questionamentos políticos porque mantém a dependência dos internautas com relação à economia convencional.

Politicamente, a geração internet mostra-se refratária às práticas e aos valores tradicionais, tendendo ao niilismo eleitoral. Mas essa atitude, embora rotulada como apolítica, é na verdade profundamente política, porque aponta para o surgimento de um contrapoder alimentado pela comunicação horizontal e descentralizada dentro da internet.

Os dilemas e as incertezas dos que desconfiam da internet são claramente visíveis na imprensa brasileira, que se mostra integrada ao sistema de poder político hegemônico no País, sem se dar conta de que existe um contrapoder em gestação cujo perfil é totalmente distinto daquele que caracterizou a esquerda.

A cobertura das eleições presidenciais deste ano faz parte desse contexto midiático e tende a fortalecer a ideia de que só existe um poder político, o que é uma ficção. Existe um poder hegemônico, mas a internet está criando outro que funciona segundo regras próprias, que, em sua maioria, ainda não foram suficientemente materializadas. A única coisa que se sabe é que ele provavelmente será fragmentado e descentralizado.


Este artigo foi publicado anteriormente no site Observatório da Imprensa.


Carlos Castilho é jornalista com 35 anos de experiência em rádio, jornais, revistas, televisão e agências de notícias no Brasil e no exterior. Pode ser encontrado no blog Código Aberto.
Twitter: @ccastilho

Fonte: http://www.nosdacomunicacao.com/panorama_interna.asp?panorama=222&tipo=G

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